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Olha quem voltou

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2011. Adolf Hitler acorda, revivido, numa Alemanha totalmente modificada: não há mais partido nazista, a guerra acabou, a Alemanha é governada por uma mulher e está cheia de imigrantes. Seu discurso se torna viral, com milhares de visualizações no YouTube, e seu sucesso o leva a ganhar um Talk Show na tevê. Todos sabem que ele é Hitler, mas ele não entende por que não consegue convencê-los de que ele é o próprio, e não um ator espetacular que não sai do papel.

O livro “Ele Está de Volta”, do alemão Timur Vermes, vendeu 2 milhões de cópias apenas na Alemanha desde o seu lançamento, em 2012, e foi traduzido para 42 línguas, incluindo até o hebraico! Em português foi lançado há quase um ano, mas agora que está chegando aos Estados Unidos é que deve começar o burburinho. Na última segunda-feira, 4 de maio, o New York Times fez uma excelente resenha que levanta a discussão se já é hora de fazer piada com um assunto tão controverso.

“Você tem que contar a mesma história, mas de uma maneira diferente”, diz Vermes. Desde os anos 1990 “muitas pessoas estão cansadas de ouvir aquela coisa toda da culpa e etc. e pensaram 'Ok, melhor pegar um atalho'. Vamos contar a mesma história, mas vamos fazer piada com ela.” A risada e a controvérsia já começam na capa, criada pelo designer gráfico alemão Johannes Wiebel e usada na maioria das traduções pelo mundo, incluindo a brasileira. Ela mostra o título do livro formando o característico bigode do ditador num fundo branco com o cabelo de Hitler formando o rosto.

O livro tem dividido os críticos. Enquanto alguns embarcam na ideia de rir de um personagem tão horrendo, outros acham que isso pode diminuir o tamanho da questão. Uma crítica alemã resumiu os sentimentos controversos ao afirmar: “Você pode até rir do livro, mas é uma risada que fica presa na garganta.” Por quê? Embora Hitler já tenha sido satirizado em outros países, como fez Chaplin em seu famoso filme “O Grande Ditador”, na Alemanha sempre foi tabu brincar com um ícone que traz memórias tão aterradoras.

Será que fazendo piada com Hitler o Holocausto se tornará trivial? Ou será que tal humor na verdade tornará a imagem de Hitler ainda mais desprezível? Não importa a resposta, Vermes alcançou seu objetivo. Segundo ele, já tá na hora da Alemanha começar uma nova discussão sobre seu passado. Por levantar uma questão que deixa seus leitores desconfortáveis, “a experiência pode ajudar mais do que ouvir a mesma ladainha pela centésima vez: “nós não deveríamos ter matado os judeus.”