Sardenha: ilha dos sabores

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A Sardenha anda na moda. As praias de águas cristalinas e o cenário montanhoso transformaram a ilha italiana em um dos mais badalados destinos de verão da Europa. Localizada bem no centro da porção occidental do Mar Mediterrâneo, atravessou a história recebendo influências que vinham de todas as direções: da Toscana e do Lácio, do sul da França, da Península Ibérica e do norte da África, formando um caldeirão cultural que se reflete nos costumes locais, incluindo o que se come e o que se bebe. O turismo ajudou a dar visibilidade aos vinhos locais, que andam cada vez mais bem cotados, e que são o espelho dessa formação com distintos caracteres.

Entre os brancos, a uva Vermentino é a rainha, dando origem a vinhos de perfis bem variados, dos mais leves e aromáticos até os mais encorpados. Falando de tintos, a Cannonau e a Carignano, primas, respectivamente, da Garnacha e da Carignan, dividem a primazia, originando vinhos corpulentos, concentrados e bem condimentados. Caráter é o que não falta à enologia sarda.

Uma das melhores vinícolas da Sardenha, a Dettori (importada aqui pela Decanter) fica ao norte da ilha, e produz rótulos memoráveis, como o Renosu Bianco Romangia IGT, não safrado, mineral e cheio de fruta, encorpado, herbáceo e intenso. Com estilo similar, mas ainda mais rico e denso, o Dettori Bianco Romangia IGT 2010 tem nobres perfumes de fruta bem madura, como pêssego e abacaxi, mel, lavanda e funcho, com grande mineralidade e um fim longo, quase interminável. São brancos de exceção, capazes de acompanhar receitas de peixes e frutos do mar, mas também carnes, como coelho, e até um belo escalope de foie gras.

Outra referência na enologia sarda é a Sella & Mosca, eleita a cantina dell’anno em 2013 pelo respeitável guia Gambero Rosso, a mais importante publicação do gênero na Itália (importado aqui pela Interfood). Seus vinhos seguem um caminho oposto ao da Dettori: são mais leves e frescos, caso do Monteoro Vermentino di Gallura Superiore DOCG, um dos destaques dessa que é a única “Denominazione di origine controllata e garantita” da ilha. Se os seus brancos são bons, a Sella & Mosca vem ganhando destaque principalmente por conta dos tintos, concentrados, mas elegantes, como o Cannonau di Sardegna, esbanjando fruta madura, com taninos firmes, mas macios, mineral e condimentado, cheio de especiarias, como pimenta-do-reino, uma escolha segura para acompanhar um bom churrasco.

Bruno Agostini é editor-assistente do caderno Boa Viagem, e colunista de vinhos da Revista, no jornal O Globo.